Conversas com (o) nada
- “Lembras-te de quando éramos putos, e nos ensinaram o que era mentir?”
Silêncio.
Ela continuou – “Lembras-te quando nos mostraram que era feio, e que havíamos de ser castigados por dizer palavras que não correspondiam ao que tinha acontecido na realidade?” – pausa – “eu sei, não te ensinaram nada disso”
- “O teu silêncio é revelador, mas basta estares aí a dar-me ouvidos. Tu sabes o que é a mentira”
Ele interrompeu a longa mudez e disse: - “Nós somos a mentira. Sempre que queremos. Se cativamos com uma mentira, ela torna-se verdade para quem a ouve e sente como verdadeira. Somos o mundo imperfeito que inventamos para os olhos dos outros. Para os outros esse mundo é perfeito dentro do nosso contexto, para eles desconhecidamente inventado, pois é o que conhecem; para nós, que inventamos, a acreditar no que inventamos, somos ela mesma, essa mentira”
Ela escutou, queda, atenta, sem se ouvir um suspiro.
- “Se há castigo?”
Os fonemas propagaram-se no ar, agregando-se e construindo sentido sem resposta.
- “Talvez seja castigo suficiente viver a respirá-la...”
“Um dia a verdade vem à tona... Mas a mentira há-de sempre existir.”
Silêncio.
Ela continuou – “Lembras-te quando nos mostraram que era feio, e que havíamos de ser castigados por dizer palavras que não correspondiam ao que tinha acontecido na realidade?” – pausa – “eu sei, não te ensinaram nada disso”
- “O teu silêncio é revelador, mas basta estares aí a dar-me ouvidos. Tu sabes o que é a mentira”
Ele interrompeu a longa mudez e disse: - “Nós somos a mentira. Sempre que queremos. Se cativamos com uma mentira, ela torna-se verdade para quem a ouve e sente como verdadeira. Somos o mundo imperfeito que inventamos para os olhos dos outros. Para os outros esse mundo é perfeito dentro do nosso contexto, para eles desconhecidamente inventado, pois é o que conhecem; para nós, que inventamos, a acreditar no que inventamos, somos ela mesma, essa mentira”
Ela escutou, queda, atenta, sem se ouvir um suspiro.
- “Se há castigo?”
Os fonemas propagaram-se no ar, agregando-se e construindo sentido sem resposta.
- “Talvez seja castigo suficiente viver a respirá-la...”
“Um dia a verdade vem à tona... Mas a mentira há-de sempre existir.”