quinta-feira, junho 14, 2007

Conversas com (o) nada

- “Lembras-te de quando éramos putos, e nos ensinaram o que era mentir?”
Silêncio.
Ela continuou – “Lembras-te quando nos mostraram que era feio, e que havíamos de ser castigados por dizer palavras que não correspondiam ao que tinha acontecido na realidade?” – pausa – “eu sei, não te ensinaram nada disso”
- “O teu silêncio é revelador, mas basta estares aí a dar-me ouvidos. Tu sabes o que é a mentira”
Ele interrompeu a longa mudez e disse: - “Nós somos a mentira. Sempre que queremos. Se cativamos com uma mentira, ela torna-se verdade para quem a ouve e sente como verdadeira. Somos o mundo imperfeito que inventamos para os olhos dos outros. Para os outros esse mundo é perfeito dentro do nosso contexto, para eles desconhecidamente inventado, pois é o que conhecem; para nós, que inventamos, a acreditar no que inventamos, somos ela mesma, essa mentira”
Ela escutou, queda, atenta, sem se ouvir um suspiro.
- “Se há castigo?”
Os fonemas propagaram-se no ar, agregando-se e construindo sentido sem resposta.
- “Talvez seja castigo suficiente viver a respirá-la...”

“Um dia a verdade vem à tona... Mas a mentira há-de sempre existir.”

Procuras
















Por vezes fico a olhar-te. Procurando as traduções intraduzíveis dos sentimentos. Procuro nos traços inúmeras respostas para uma infinitude de perguntas que sei não terem resposta, mas que julgo mesmo assim encontrá-las no horizonte que me ofereces. Há perguntas que nunca morrem, e respostas que há muito pereceram.
Persisto em encontrar repostas na tua imperscrutável face muda. No fundo, todas as respostas não interessam, mas são importantes. Importa mesmo é estarmos aqui. Nem que por vezes não saibamos porque estamos. Sabemos que é assim. Sabemos o desafio que aceitamos, e sabemos que a desistência nos enfraquece, e nós não queremos ser fracos, mas não somos diferentes de todos os outros. Mas não somos os outros nós... somos Nós.
Por vezes fico a olhar-te. A procurar perguntas, porque tenho fome de conhecimento. Porque ele não se esgota só porque estamos aqui, mesmo que saibamos porquê, mas desconheçamos a razão efectiva.

Por vezes fico a olhar-te, com a alma turva de silêncio, o coração trôpego, e a boca cheia de palavras submersas que não pretendem ser resgatadas.



Imagem conseguida através da pesquisa de imagens do google.


segunda-feira, junho 11, 2007

Equilibrista












Temo que o teu beijo
Me atravesse a alma
Sem permanecer
Sem espelhar a calma.
Temo que as tuas mãos
Se sustentem apenas desta pele,
Desta carne que não dura,
Temo.

Mas insisto,
A vida é essa insistência sombria
De prevalecer ao sofrimento,
E buscar nos beijos e nas mãos o equilíbrio,
Que os pés não dão, quando há a queda.

Temo,
E agarro esse temor
Com as entranhas do meu ser desconhecido,
O que busca o sabor do que vivo,
O que te busca,
Para me equilibrar.


Imagem conseguida através da pesquisa do google