segunda-feira, agosto 28, 2006

Estaremos sós








Estaremos mortos e sós,
Tu na tua tumba,
Eu na cinza dispersa do horizonte,
Vagos resquícios na memória
De quem um dia nos trouxe no peito,
Ou só troncos despidos
De árvores corrompidas
Pelo vento dos tempos,
De ramos fechados e quietos.

Estaremos sós
Na solidão finalmente completa
Cuja incompletude desenhamos
Nos dias trémulos sem encontro,
Sem horas pausadas
E fugazmente aproveitadas.

Estaremos sós
Quando o vento dos dias
Vindo da fúnebre lua envolver os telhados
E restarem os risos magoados
Dos pássaros que partem friorentos.

Estaremos sós
E teremos então todo o tempo do mundo
Que antes fora disperso e vagabundo
Procurando outro poiso
Que não nos nossos mecanismos de pulso
Dentro dos quais regíamos a vida.

E ficaremos
Eu, de mãos dadas
Com o horizonte quente e laranja,
E tu
Completando a terra enquanto gira.

E a ironia das coisas
Enquanto teimosamente o tempo contamos
É que esquecemos a história
E o tempo que matamos no nada
Enquanto é ele que nos mata.



Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

1 Comentários:

Blogger teorias disse...

A vida, por vezes, prega-nos partidas para nos mostrar que aquilo que nós achávamos ser a felicidade... afinal não passava de um equívoco... uma ilusão! Necessitamos de fazer o luto daquilo que perdemos para depois lutarmos contra ele e sair novamente com a vida nas mãos! Não há dor maior que a dor da perda... perde-se muito quando se perde algo ou alguém que se ama... perde-se um pedaço de nós próprios. Tal como nos diz Eduardo Sá: “As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho, mais ou menos indecifrável, dentro de nós”.

agosto 29, 2006 1:52 da tarde  

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