terça-feira, outubro 02, 2007



















Lembro de repente
Aquelas noites
Em que mordias o riso
Debaixo dos lençóis
E os pés descalços
Fora da cama…
E em que o chão não existia,
Nem as paredes
Nem os soluços
Nem as más escolhas,
Nem os saltos da vizinha pesada
Vindos do tecto.

Esse andar
É a minha morada do pensamento.

Ando pelas ruas,
Decoro as pedras dos passeios,
E as paragens dos autocarros,
Os pratos velhos de barro
Dos tascos por onde almoço,

Às vezes apanho a praia no olhar
E levo areia nos bolsos
Para me lembrar do melhor
Da vagabundez deste mundo
E carrego comigo
O cheiro de uma ou outra flor
Para me lembrar
Do quanto pode ser profundo
Efémero e terreno,
E contrário do Inferno.
E escorrida do casaco
Também uma gota de orvalho
Onde estendo as mãos secas
E me lembro de um abraço
Capaz de saciar
Um coração estéril.

E mesmo que a casa esteja vazia,
Ampla e fria,
Eu entro no sótão aberto da memória,
E vou deitar-me
No teu riso
Aconchegar-me nuns pés frios
E morder a vida

Como quem beija.

Imagem conseguida através da pesquisa de imagens do google

6 Comentários:

Blogger teorias disse...

Já começava a ficar chateado pelo facto daqui não se postar nada!
Mesmo assim acho que valeu a pena esperar.
Muito bom ;)
Beijos

outubro 03, 2007 5:14 da tarde  
Blogger Joaquim Amândio Santos disse...

jamais se chamará sussurro se não nascer do ventre da languidez...

outubro 03, 2007 7:33 da tarde  
Blogger fairybondage disse...

É bom passear nos nossos mundos interiores
onde tudo é só nosso
e de mais ninguém
onde só entra quem nós queremos
e tudo o resto fica de fora
da nossa cabeça!!!!
O meu é uma praia...
recortado numa encosta verde estonteante...
e o mar mais turquesa que existe...
às vezes perco-me por lá
e não quero voltar!!!

mil beijinhos

outubro 03, 2007 11:37 da tarde  
Blogger @--}--- de £ótus disse...

Triste, mas belo na sua tristeza!

Que no sótão aberto da tua memória, te encontres e ao te encontrares, despertes. Para a vida, para o amor, porque este nosso "rio", não pára e no próximo respingar de água, está a nossa felicidade!

Beijos meu poeta! :)
APG

outubro 10, 2007 3:49 da tarde  
Blogger Joaquim Amândio Santos disse...

a urbanidade assumida poeticamente como percurso da emoção.

fluído, sedoso, bem conseguido!

outubro 12, 2007 2:09 da tarde  
Blogger BlueShell disse...

Gostei ! Muito.

Beijo em azul
BShello’o’o’o’o’o’
‘o’o’o’o’o’o’o’o’o

outubro 12, 2007 7:25 da tarde  

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