quarta-feira, setembro 06, 2006

Embriaguez



Bebi tuas palavras,
Nos vermelhos e ébrios luares,
Flores Azuis em quintais laranja,
Que povoavam fecundos os ares.


Embriagada dessas palavras
De tanto silêncio que me deste,
Do fundo de teu ser agreste,
Pensava serem descritivas paisagens,
O indecifrável das tuas mensagens.

As palavras que nunca dizias,
Bebia-as sofregamente,
Na languidez fatal dos dias,
No ardente calor de noites frias,
No trabalhar solitário da mente.

E estou dispersa e vagabunda,
Em todos os fonemas que não ouvi,
Eu sou aquela que se inunda,
Dos sonhos que nunca vivi.

E em sonhos tão pouco audazes,
Que eu até achava que tinha,
Esperei da tua boca, capazes,
Palavras que não me deixassem sozinha.



Desfocada, nas lágrimas,
Ou nesse vinho que ainda me dás,
Devaneios em luares claros,
Numa verdade escondida,
Que ora se mostra em dias raros,
Ora permanece bebida.

Agora os vinhos estão a azular,
São os barcos que cavalgam na pista,
De noite são sois a brilhar,
Pra quê sobriedade realista?

Fico ébria no registo,
Ressacando alvorada,
Trago no colo flores de xisto,
Em mundo bêbado de nada.

Este trago, este sorvo,
Já não tem sabor possível,
Sou já liquido e morro,
Em cor de vinho indefinível.

Contexto original das imagens:

portfólio de António Paulo in foto.sapo.pt

www.zedoqueijo.com.br

4 Comentários:

Blogger teorias disse...

Ser capaz de entrelaçar palavras para expressar ideias não é nada fácil... às vezes só mesmo embriagado!!! Mas o que fica suspenso na tua poesia (e é seguro que ela espelha, de certa forma quem a escreve) é saber o quão realista/ficcionada ela é! Desvendar o real sentido das palavras que empregas... desvendar a intencionalidade subjacente ao uso de cada letra!

setembro 07, 2006 11:02 da manhã  
Blogger Ponta Solta disse...

Estou à espera da teoria dos "não acontecimentos" impacientemente. Espero que já estejas a tratar disso! lol

Sabes grande parte vai saindo automaticamente, mas estaria a mentir se dissesse que não tenho noção da criação de alguns recursos ou figuras de estilo enquanto escrevo... embora seja da área de letras não escrevo, nem percebo, tanto (ou tão bem) como gostaria...

Obrigada por me leres.

setembro 07, 2006 11:31 da manhã  
Blogger teorias disse...

Bem gostava de poder escrever mais teorias do que aquelas que escrevo (sou da área das ciências), mas o trabalho não me deixa muito tempo livre para divagar em campos teóricos! Assim, quase só consigo escrever uma por semana (e esta semana já escrevi uma...)! A escrita de uma "teoria" implica algum esforço prévio de encadeamento do reciocínio... só quando acho que as ideias estão alinhadas é que publico as teorias...
Anáforas, aliterações e hiperboles deves tratá-las por "tu"... tal a forma (e a quantidade) daquilo que escreves.
"Leio-te" com facilidade e satisfação!

setembro 07, 2006 11:46 da manhã  
Blogger Ponta Solta disse...

Ainda bem que há satisfação em algumas leituras,às vezes abrimos o jornal e no teor das notícias não conseguimos conter a desolação...

Pois o tempo, o tempo, segundo um slogan de uma marca de relógios, "é aquilo que fazemos com ele", mas nos dias de hoje, estamos amarrados ao tempo e à falta dele. É pena, mas de certo dá mais trabalho teorizar do que tirar da caneta ou das teclas uns desabafos. Não escrevo todos os dias, uma parte destes posts, está na minha compilação de rascunhos, disparates e divagações... uma folhinha secreta escondida nos "meus documentos" aqui no emprego lol

Bem, aguardo então a teoria da próxima semana e espero que haja tempo para teorizar!

setembro 07, 2006 12:24 da tarde  

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