quinta-feira, setembro 07, 2006

Não aconteceu? E ainda pode? Porque (não)?

Já suspeita, eu me confesso saudosa. E aproveitando uma temática que me abordaram por estas bandas, talvez saudosa daquilo que passou e não vivi ou não experimentei.
Perda de tempo? Muito provavelmente, mas que esta perda de tempo não é devaneio só meu, nisso eu creio.

A vida prega partidas a toda a gente, nas escolhas que parecem acertadas, no dobrar da esquina em que aparece um obstáculo metamórfico que pode ser uma perda, um alguém inesperado, uma situação imprevista. Os obstáculos nunca são coisa definida, têm o estranho dom da metamorfose. E às vezes esses obstáculos somos nós próprios...

Acho que muitas vezes fui obstáculo de mim mesma, porque tendo um caminho previamente estipulado, e embora me fosse apresentado um atalho, ou caminho paralelo, só não terei ido por esse caminho, não porque não fosse aliciante, ou porque não tivesse vontade de o tomar, mas porque preferi ser fiel (ou teimosa) e seguir o primeiro caminho traçado.

Pensar no que não foi, não é sinónimo de arrependimento. Nem sempre estamos arrependidos quando olhamos para trás. Às vezes gostávamos de ter feito mais daquilo que fizemos para trás, sem lamentar o que foi feito. E o mal (ou bem) é que o tempo, além de não voltar para trás, parece estabelecer momentos precisos para alguns acontecimentos... Isto é o que pensam algumas cabeças (a minha também – tipo “não tenho idade para isto”), mas há quem (e admiro essa capacidade) fuja à suposta “ordem natural das coisas” e estabeleça a sua própria ordem e torne os “não-acontecimentos” em acontecimentos de verdade, independentemente do timming que é imposto pela ordem das coisas socialmente.
O que me/ nos impede de alterar o timming das coisas, no caso dos acontecimentos reversíveis, ou possíveis? Só a nossa vontade? Medo? (De abanar muitas vezes o alicerce sobre o qual erguemos a nossa estabilidade actual?) (De mudar?)

Procuro muitas vezes dentro de mim a resposta, e sei que ela está dentro de cada um, em razões diferentes. Há coisas das quais não podemos fugir, do fim da vida (nossa e dos outros, que consequentemente nos influenciarão) do poder do dinheiro, que ou temos ou não temos, da saúde (idem aspas), e estes –( no caso do dinheiro e da saúde, não os tendo) parecem-me os mais redutores. O resto, não mencionando o factor Sorte, porque ficaria a divagar sobre o que ela quer dizer eternamente, é da nossa vontade que construímos. Será que esse resto é tão pequeno e dá tão pouca margem de manobra para que num tempo, relativamente, não tanto oportuno, não possamos transformar em vivências os tais “não-acontecimentos”?


O Passado – de onde nos construímos e viemos, do dia de ontem, das memórias más e boas que guardamos, resumidamente.

Então em que tempo verbal se situam os “não-acontecimentos”??? Se eu compusesse uma gramática para definir semanticamente em que tempo decorrem coisas como os “não-acontecimentos” certamente que hesitaria entre dois: para aqueles que olham em frente sem nostalgia do que não fizeram ou não viveram seria NUNCA, para mim e para aqueles que discutem a profundidade que eles mantêm no Presente: SEMPRE...

Indagações=muitas, conclusões=obviamente, dependem de cada um...

8 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Pois como sempre adorei mas isso jà sabes.
Seguir por atalhos, tbm gostava muito mas esses caminhos não teem indicações por isso é melhor seguir pela via ràpida pelo menos là tens um monte de pessoas que te indicam o caminho, e posso-te dizer por ter experimentado os dois, este ultimo é bem mais calmo e sereno. Por agora tenho de ir mas amanha faço outro comentario.

beijos
sempre tua albatroz

setembro 07, 2006 4:26 da tarde  
Blogger Marinheiro disse...

Olá poetisa!
Tens um texto no meu blog como réplica a este teu ;-)

Beijinhos

setembro 07, 2006 5:57 da tarde  
Blogger teorias disse...

Antecipação?! Isso é, sem dúvida, um acontecimento!
Não podemos esquecer que os acontecimentos podem ser divididos em normativos (esperados socialmente, como o entrar para a faculdade, a morte, etc) e não normativos (aqueles que são completamente inesperados como, um acidente de carro ou a perda de um amigo). Os “não acontecimentos” apenas se tornam dolorosos (ou têm uma dose de dor maior) se esperados, não ocorrem. A capacidade de os tornar uma realidade, mas noutro “timming” não me parece possível... uma vez que fora de tempo, estamos perante um novo acontecimento e não perante o acontecimento anterior... não é a mesma coisa! Querer ir à praia em Agosto e não poder ir... não pode ser igual ao ir em Setembro. O contexto temporal perdeu-se... o que não quer dizer que a segunda situação não possa ser tão boa, ou até melhor, que a primeira (mas isto, bem aproveitado, retalhado e sem ser repetido... ainda poderá dar uma teoria... ou não!).

Se os “não acontecimentos” tivessem um tempo verbal... para mim seria um qualquer “pretérito... imperfeito”!

setembro 08, 2006 9:06 da manhã  
Blogger Ponta Solta disse...

Teorias,

Eu podia dizer que te entendo com base naquilo que dizia Ricardo Reis, de que o rio corre e não pára, e no que disse alguém que já não me lembro que "ninguém se banha na mesma água do rio 2 vezes", mas acho que, tendo partido do teu mote, exploramos de forma diferente os não-acontecimentos.

Para mim o único acontecimento normativo é a morte. Vivemos´em sociedade é verdade, mas tudo o resto, que de forma politicamente correcta, a sociedade impõe um determinado timming para ser realizado, só é norma se quisermos, pegando num exemplo que deste, a entrada para a faculdade, em que o timming se estabalece entre os 18 e 24 anos, sensivelmente. Se não entramos neste timming (imposto) não deixa de ser um "não-acontecimento" só porque entramos fora de timming aos 45anos,( e isto é um acontecimento novo, concordo contigo, e se reparares no título "Porque (não)" sugere isso mesmo).
O que acontece é que em vez de estarmos a falar acerca dos "não-acontecimentos" pelo significado que têm, em particular para as pessoas, estamos a falar da problemática do timming em que eles acontecem...

Pessoalmente, e está bem claro que eu escrevo a minha opinião e gosto que discordem ou concordem, porque é assim que as coisas são e tenho de respeitar opiniões diferentes, eu olho para trás, vejo que o que gostava que acontecesse, de facto aconteceu, mas não tanto como esperava, mas vejo isso, dou-me conta disso, no momento presente, e não, na altura do "não-contecimento". Não sei se me faço entender...

Há certas coisas que não acontecem e que podem estar dentro de determinado contexto temporal como dizes e muito bem, e coisas que não acontecem e que podem estar dentro do contexto temporal (sem tempo) que reside dentro de nós mesmos...

setembro 08, 2006 10:56 da manhã  
Blogger teorias disse...

A comunicação tem a dificuldade de nem sempre conseguirmos que o outro receba a mensagem da forma que a queremos transmitir!

Normativo, entende-se aqui como uma norma, como algo normal para a maioria das pessoas. E se a maioria dos jovens entra para a faculdade entre os 18 e os 24 anos... então isso é um acontecimento normativo. Se encararmos a normatividade como um continuum... teremos a morte no extremo da normatividade... outros acontecimentos afastam-se desse extremo mas podem igualmente ser considerados normativos. Claro que és livre de te afastares da realidade interhumana comum e leres a forma como os acontecimentos podem ser normativos ou não como entenderes. Mas para mim, e para os estudiosos das ciências sociais, é indissociável o tempo (timming) da normatividade!
Os "não acontecimentos" acabam por ser acontecimentos normativos que não ocorrem (espero estar a fazer-me entender) e, ocorrendo fora do timming podem ser novos acontecimentos (mas isso será flexível). Nas na vida de cada um existem muitos "não acontecimentos"... muita coisa que esperavamos que acontecesse e não ocorreu... muitas, e concordo contigo, nem damos por elas. Só reparamos que deviam ter acontecido quando há muito passou o tempo para elas terem ocorrido. Nessa altura já não há muito a fazer... paciência!

O importante é tertarmos viver (a fundo, se possível, sem reservas) os acontecimentos que o nosso contexto temporal interno no sugere...

setembro 08, 2006 11:35 da manhã  
Blogger Ponta Solta disse...

Vou ser-te muito sincera, a dita normalidade, que toda a gente, até eu, (diz que) sabe o que é irrita-me (e atenção que eu tb não consigo fugir dela) Desde a ordem "normal" dos supostos acontecimentos normativos, até à aparência das pessoas que alguém ditou ser a normal, entre a vestimenta discreta e o cabelo "normal" até os couros, os sacos do lixo transformados em roupa e as cristas vermelhas ou azuis...

A maioria é que dita as regras e como dizes os estudiosos das ciências sociais captam a normatividade pela generalidade do ordem das coisas que acontecem socialmente. O meu "afastamento" (como fazes questão de dizer) da realidade interhumana é resultado preciso da normatividade dos acontecimentos que os estudiosos das ciências sociais farão a questão de vincar. Questionar a razão das coisas, e explicá-las, ainda bem que sim. Eu entendo o teu ponto de vista,e o deles, e encaixo-me nessa sociedade, porém afasto-me dessa realidade sempre que posso, para poder achar que o meu contexto temporal interno tempo pode ser superior ao timming imposto pela explicação dos sociólogos.

setembro 08, 2006 12:11 da tarde  
Blogger teorias disse...

Pessoalmente... acho que fazes muito bem! Até simpatizo com a sociologia, mas não me agradam os sociólogos (à excepção do Anthony Giddens)! Detesto imposições e acho que cada um deve viver a sua vida como muito bem entender, desde que as suas opções não interfiram com a liberdade individual do outro...

o ser humano parece não conseguir viver sem ordem... procura-a em tudo. Já teorizei isto no meu blog em 25/08/2005 num post intitulado "tudo em ordem?" (numa altura em que ainda andava a experimentar a blogosfera)

p.s. Não fiz questão de dizer... apenas disse!

setembro 08, 2006 12:24 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

ui ui jà estou com a cabeça a andar à roda com tanto timming.

albatroz

setembro 11, 2006 1:22 da tarde  

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