Horas

Atiro ao ar
O despojo desta hora,
Chegou a hora de abandonar
De ir embora.
O nó feito nos cabelos
Se deslaça
Da postura firme, que os embaraça,
E volto a tê-los,
Nas duas mãos abertas
Os doces restantes minutos
Das horas ainda desertas
Que esperam astutos
De portas entreabertas.
E entro pela sala
Das horas ainda despidas
Que aguardam o resto
Do que havemos fazer das vidas.
E vagueio no vazio
Que os meus dedos hão-de povoar,
E passeio no frio
Do tempo que não cessa de passar.
E é do meu mover
Que se fazem as paredes,
E é do meu ser
Que as minhas horas são como vedes,
E do meu abandono
O poder de torná-las vazias,
E do meu sono,
Os sonhos em romarias.
Despojo a hora,
No vento triste do entardecer.
Também para a hora
É hora de morrer,
E é meu, o poder agora,
De fazer nova hora nascer.
Contexto original da imagem: www.static.flickr.com
4 Comentários:
Ora, ora... as horas! 3600 segundos de tempo... tempo que se ganha... tempo que se perde... tempo que se aproveita... tempo que se explora... tempo que desperdiçamos... tempo que deitamos fora!
Einstein defenderia que o tempo se curvava no espaço (a famosa curvatura tempo-espaço)... eu, sem pretenção de o igualar, sou capaz de defender que, a espaços, nos vamos curvando com o tempo!!
Realmente agora é que fazia algum sentido dizer "time is what you make of it"
Eu diria mais, que, com o tempo vamos ficando mingados, enrugados e vamos curvando lol
Perdemos às vezes tanto tempo com tanta coisa e sabemos todos para onde vamos e sabemos que lá não há coisas e que estamos sozinhos... (cá estou eu com o meu fatalismo)
Mas enquanto escapamos à curva derradeira do tempo, é nosso o poder de inventar as nossas horas, gastá-las, atirá-las ao vento, perdê-las ou... aproveitá-las.
Tempo é o que fazemos com ele, mas também é o que ele faz connosco! O tempo esgota-se... e se se esgota faz sentido algum fatalismo! O tempo é muito mais do que apenas segundos que passam... mas se sabemos disso, porque o desperdiçamos com a mesma naturalidade com que respiramos? Perdemos tempo, adiamos, perdemos "timmings" (novamente o "timming")... perdemos vivências... perdemos momentos! O tempo é dinheiro, mas o tempo é sobretudo vida... e a cada adiamento, a cada desperdicio... é vida e não dinheiro (normalmente) que perdemos!
Adorei o teu poema!! Dá para sentir o tempo... desenrolando o seu tapete de cor defronte do nosso olhar...
Bjs
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