terça-feira, setembro 12, 2006

Horas


Atiro ao ar
O despojo desta hora,
Chegou a hora de abandonar
De ir embora.

O nó feito nos cabelos
Se deslaça
Da postura firme, que os embaraça,
E volto a tê-los,
Nas duas mãos abertas
Os doces restantes minutos
Das horas ainda desertas
Que esperam astutos
De portas entreabertas.

E entro pela sala
Das horas ainda despidas
Que aguardam o resto
Do que havemos fazer das vidas.

E vagueio no vazio
Que os meus dedos hão-de povoar,
E passeio no frio
Do tempo que não cessa de passar.

E é do meu mover
Que se fazem as paredes,
E é do meu ser
Que as minhas horas são como vedes,
E do meu abandono
O poder de torná-las vazias,
E do meu sono,
Os sonhos em romarias.

Despojo a hora,
No vento triste do entardecer.
Também para a hora
É hora de morrer,
E é meu, o poder agora,
De fazer nova hora nascer.

Contexto original da imagem: www.static.flickr.com

4 Comentários:

Blogger teorias disse...

Ora, ora... as horas! 3600 segundos de tempo... tempo que se ganha... tempo que se perde... tempo que se aproveita... tempo que se explora... tempo que desperdiçamos... tempo que deitamos fora!
Einstein defenderia que o tempo se curvava no espaço (a famosa curvatura tempo-espaço)... eu, sem pretenção de o igualar, sou capaz de defender que, a espaços, nos vamos curvando com o tempo!!

setembro 12, 2006 11:02 da manhã  
Blogger Ponta Solta disse...

Realmente agora é que fazia algum sentido dizer "time is what you make of it"

Eu diria mais, que, com o tempo vamos ficando mingados, enrugados e vamos curvando lol

Perdemos às vezes tanto tempo com tanta coisa e sabemos todos para onde vamos e sabemos que lá não há coisas e que estamos sozinhos... (cá estou eu com o meu fatalismo)

Mas enquanto escapamos à curva derradeira do tempo, é nosso o poder de inventar as nossas horas, gastá-las, atirá-las ao vento, perdê-las ou... aproveitá-las.

setembro 12, 2006 11:43 da manhã  
Blogger teorias disse...

Tempo é o que fazemos com ele, mas também é o que ele faz connosco! O tempo esgota-se... e se se esgota faz sentido algum fatalismo! O tempo é muito mais do que apenas segundos que passam... mas se sabemos disso, porque o desperdiçamos com a mesma naturalidade com que respiramos? Perdemos tempo, adiamos, perdemos "timmings" (novamente o "timming")... perdemos vivências... perdemos momentos! O tempo é dinheiro, mas o tempo é sobretudo vida... e a cada adiamento, a cada desperdicio... é vida e não dinheiro (normalmente) que perdemos!

setembro 12, 2006 2:31 da tarde  
Blogger fairybondage disse...

Adorei o teu poema!! Dá para sentir o tempo... desenrolando o seu tapete de cor defronte do nosso olhar...
Bjs

setembro 16, 2006 7:32 da tarde  

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