Eterno Contratempo
Não sei nada da dor,Da vida,Ou do amor.Sei as outras mãos feridasOs outros olhos cansadosE os meus pecados,De vivências idas.Sei onde estiveE sei que não estiveQuando devia estar.Há olhares que se apagamMas permanecem no arQuando olhamos para dentroE sentimos com pesarQue o tempo é um contratempoQue a vida faz questão de marcar.
Reflexo
Não sei nunca quando voltoPara dentro de mim.É ver-me assimNum espelho recortadoQue o tempo partiuE eu, daquele lado,Sou outra que não sorriu,Um reflexo alterado.E dos risos,Sem palavrasDe repente me desfiz,Aquela que no espelho não ri,Estará infeliz?Mas se aquela outra não sou eu,É outra, saída de mimE o que é de mim não morreu,Porque me vejo assim?Não sei nunca quando partoPara fora de mim,Há qualquer coisa de barcoNesta travessia sem fim,Em que um rio reflector,Sem cuidado e sem pudor,Me separa de mim.Imagem: Muchacha ante el espejo - Pablo Picasso