quinta-feira, dezembro 13, 2007

Eterno Contratempo





















Não sei nada da dor,
Da vida,
Ou do amor.
Sei as outras mãos feridas
Os outros olhos cansados
E os meus pecados,
De vivências idas.

Sei onde estive
E sei que não estive
Quando devia estar.
Há olhares que se apagam
Mas permanecem no ar
Quando olhamos para dentro
E sentimos com pesar
Que o tempo é um contratempo
Que a vida faz questão de marcar.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Reflexo


















Não sei nunca quando volto
Para dentro de mim.
É ver-me assim
Num espelho recortado
Que o tempo partiu
E eu, daquele lado,
Sou outra que não sorriu,
Um reflexo alterado.

E dos risos,
Sem palavras
De repente me desfiz,
Aquela que no espelho não ri,
Estará infeliz?

Mas se aquela outra não sou eu,
É outra, saída de mim
E o que é de mim não morreu,
Porque me vejo assim?

Não sei nunca quando parto
Para fora de mim,
Há qualquer coisa de barco
Nesta travessia sem fim,
Em que um rio reflector,
Sem cuidado e sem pudor,
Me separa de mim.


Imagem: Muchacha ante el espejo - Pablo Picasso