sexta-feira, julho 14, 2006

Carne vs Morte


Em tons de rosa
Revolvido
Em tons de rosa
Rubro ardido
Sem paciência
Sem subtileza
Só envolvência
E certeza
Que a minha carne é agora tua,
Que tu és transeunte e eu rua,
Que és quem percorre
E eu percorrida
Que tudo morre
E eu serei vida…
Só carne e nada mais
Despojada de sombras e ais.










Imagens retiradas da pesquisa de imagens do Google.

Silêncio


Senti-lhe o gosto,
Ardor desmesurado,
Até o som do cabelo crescendo,
A Saliva descendo a garganta,
O fumo a dissipar-se no ar
Silvo de animal inexistente.
Saboreio-o:
Os lábios entreabrindo-se,
A língua húmida
Num movimento de hidratação inconsciente.
As palavras presas nas cordas
E os pensamentos adivinhados
No mover de súbito ruidoso dos olhos,
Passeando pelas órbitas.
Retinia e ecoava por toda a parte,
Esse gosto à certeza
De que tudo estava por dizer,
Sustido apenas
Pela vibração intermitente
Da vontade de não dizer nada.
Fecundo e intenso,
Perdido entre os acasos,
Silêncio.




Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

quinta-feira, julho 13, 2006

Pégaso


Tivesse Ícaro
Procurado as tuas asas,
E nem as ceras mais funestas
Se desfariam nas brasas
Dos mil raios de sol e suas arestas.

Quisesse percorrer os sonhos
E não acabar em desengano,
Que todos eles seriam risonhos,
Pois tu não és humano.

Fosse também alado o tempo,
E com as tuas asas o levarias no vento,
Para qualquer lado terreno
E todo o momento seria eterno.

Pois cavalos alados não existem,
São sonhos que me persistem,
Moldados em boneca de cera
Amolecida pela vida,
Em queda, sobre uma terra dividida




Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

Sou de nada

Sou de nada.
Sou de pó, areia e coração,
Desfaço-me no vento,
Sem prece ou oração,
Sou tristeza e alento,
Da humana condição.

Sou de nada.
Sou de aleluias e de lágrimas,
De fé ou persistência erigida,
Minha boca, livro sem páginas,
Alma inexistentemente insistida.

Sou de nada,
Do pouco tudo que me fizer,
Sou de nada,
Feita do que a vida me trouxer.

Divagação/Disparate I


As pessoas, esses seres complicados e mesquinhos, más e boas, numa variação infindável. Como eu.
As discussões e os atritos são constantes, não fosse tanta a nossa diversidade em termos de personalidade. Nunca fui boa a discutir. Às vezes as palavras ferem. Mais do que actos, gestos, olhares transbordantes de fúria ou raiva.
E o Passado muitas vezes longínquo é num ápice trazido à memória, de imediato passa a ser um conjunto de fonemas vibrando nas cordas vocais, transbordando para fora dos lábios, e manifestando-se, estando ali de novo, fazendo-se Presente,
revela estranhamente ressabiamentos escondidos.

Confesso-me uma adepta de Passados saudosos, também alguém que evoca os momentos menos bom desse Passado com alguma facilidade. Mas há coisas que outros guardam dos nossos actos que nunca imaginamos, porque pensávamos que estávamos a fazer a coisa certa, e nessa altura, nenhuma palavra interrompeu o orgulho no momento oportuno pra nos dizer que estávamos mal.

“O que está feito, feito está” é uma frase cliché muito pragmaticamente inventada (ainda que esteja certa) para efeito de desculpa para alguma coisa dita ou feita, pois não tem remédio. É uma das formas práticas para colocar termo a uma discussão quando esta se centra numa acção já mais que realizada. “Adiante”, (mais uma expressão recorrente) andar para a frente sem olhar para trás, não me parece de todo viável quando somos feitos da matéria que os anos colocaram em cima de nós, quando somos feitos daquilo que fizemos ou dissemos. Eu importo-me com as palavras, com as discussões, esqueço-as num cantinho da memória, volto a recordá-las para encontrar-lhes o sentido. Não se começa uma discussão por nada. Começa-se por nós. Começa-se pelo nosso egoísmo, razão relativa, incapacidade de entender certas e determinadas coisas. Por puro prazer, masoquismo, maldade? Não serão discussões, serão ímpetos de alguém que não sabe o que fazer com o poder das palavras e as atira ao vento pelo prazer de ferir alguém ou a si próprio (ou que nelas só reconhece esse poder). Maus, somos única e invariavelmente, TODOS.
Tudo tem uma razão de ser. As palavras têm a sua. E terão a maldade que lhes atribuirmos…




Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

quarta-feira, julho 05, 2006

Antes que a maré levante



Antes que a maré levante
Suas asas ondeadas
Na prata dourada do entardecer,
Carrega-me no colo
E faz-me das águas.

Iremos tranquilos e lânguidos
Com a roupa do corpo
Presa ao corpo,
Afundar como os tesouros
Dos barcos piratas
O tesouro do nosso existir.

E teremos sal para viver,
Como se fosse sal da vida,
E teremos peixes em vez de gatos,
Guardiães ociosos do lar liquido,
Que arredondando seus lábios
Contar-nos-ão histórias
Em balões de água,
Como em banda desenhada…

Antes que a maré levante
Leva as minhas mãos
Dadas às tuas,
E percorremos dos mares
Todas as infinitas ruas…




Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

True Colors



Os peixes e a cor da pele, seja ela qual for...

Wild Horses

Orvalho


A lágrima alva
Que se ergue com a manhã...

terça-feira, julho 04, 2006

Barco à deriva

Dentro de mim turbulento
Encontro sufocado o terror das coisas,
O encrespar das ondas,
O vento ruidoso nas agulhas dos pinheiros,
Eco solitário largado ás montanhas.

E no turbilhão sufocante
A vontade dilacerante
De vociferar às coisas e às gentes
Que sou mais que calados
Sorrisos e dentes,
Que sou mais que a que passa
Sem marca, sem cunha ou carimbo,
Que estou apenas
Em tempo desavindo
Procurando caminho e terra firme
Para atracar.

Pois que este batel não está encalhado,
Está à deriva navegado,
Feito da casca dos pinheiros,
Do sal dos marinheiros
De ecos sem retorno lançados ao horizonte.

Não prefiro a mentira

Não prefiro a mentira,
Antes o teu mole sorriso
E uma despedida.
Prefiro a solidão incompleta,
Dos dias sem um beijo,
A morte evidente e certa,
O fim do desejo.

Não prefiro
Que me contes uma história,
Porque sei que não sabes contar,
Apelo apenas à memória,
Para meus dias adoçar.

Prefiro a solidão doce,
Embora enganosa,
Que viver cada dia como se fosse,
A mentira de cada amanhecer rosa.

Prefiro a tragédia,
Sabor amargo e real,
Que travar os sonhos com a rédea,
De um doce pecado moral.

Não prefiro a mentira,
A simulação, o disfarce,
Prefiro a solidão que de mim te tira,
E o tempo que a faz curar-se.

Prefiro a tua ausência,
Povoada de todo o anseio,
E a agridoce reminiscência
De adormecer no teu seio.

Prefiro preferir a dor,
Que dormir enquanto simulas o gesto
Que havia de ser Amor,
E cravar na minha alma todo o resto
.

segunda-feira, julho 03, 2006

Amarras

"Eu queria ter amarras nesse cais,
Onde o mar ameaça a minha proa (...)"

in banda sonora JAIME