Atrasadinha como sou, só agora me pus a pensar nessa coisa da realidade virtual.
Não percebo nada de informática, sei onde é o “on” e o “off”, sei usar um processador de texto, alguns programas imprescindíveis ao meu quotidiano, sei o que é o MSN, obviamente, mas estou a leste. Eu sou tão atrasada que só agora tenho noções do que são coisas como o hi-5, o myspaces, e a blogosfera... E de repente estou numa realidade surreal, em que se tem amigos que o são porque gostaram da nossa fotografia, em que num piscar de olhos se divulga, escreve e posta o que se quer na Internet e ao alcance de todos, como, aliás, vou fazendo nestas linhas.
Não vou explorar a minha versão de bom ou mau, não interessa a ninguém. Dou-me conta que interajo com pessoas que desconheço, que qualquer pessoa sabendo um detalhezinho de mim, mete o meu nome num dos variados motores de busca da net, e com um bocadinho de paciência consegue saber mais coisas de mim. Basta que eu esteja inscrita num qualquer organismo público que divulgue uma listagem pela internet e “voilá”.
Há dias pus-me a experimentar (cada tolo ocupa o seu tempo como acha melhor) e consegui descortinar, através de um fragmento de um endereço de e-mail, o nome completo, a idade, e: o número de telemóvel da pessoa XPTO. Ora eu ponho-me no lugar da pessoa XPTO e penso: como é que eu dou os meus dados a um órgão público do qual faço parte, e basta um obcecado qualquer colocar o meu mail no Google, que de repente tem o meu nome, a minha morada, o MEU TELEMÓVEL à mão de semear?
A realidade é uma coisa vista diferentemente aos olhos de cada um, portanto, subjectiva. Falo com amigos emigrados, no MSN, porque é efectivamente mais barato do que estar ao telefone para o estrangeiro, falo com os que estão por perto, também. Sei que esses são de carne e osso, mas em que “realidade” devo encaixar os outros? Entre um e outro flirt, entre uma foto apelativa, umas frases interessantes e supostamente condizentes com a pessoa que está do lado de lá, qual é a importância que devemos dar à nova realidade que se apoderou de nós? A importância de estarmos a falar com uma pessoa que não se palpa, será a mesma de que falar com alguém com quem temos também afinidade, mas que já vimos “in the flesh”?
Há razão de ciumeira de uma ninfa ou Hércules (para aquelas que gostam do tipo – não me ocorre agora equivalente a ninfa no masculino) virtual que se atracou ao marido/mulher através do MSN? A afeição é real? Ou apenas um clone imperfeito da realidade (que há quem diga, que nem existe - lol)?
A realidade do corpóreo, da presença física, do “ver p’ra crer”, a sua importância, será discutível face à realidade que se nos oferece virtualmente? Os amigos virtuais existem? Aparte os atrasados mentais que a usam com fins pedófilos, constroem-se de facto afeições pela net, sem que o “ver p’ra crer” seja condição obrigatória?
Bem, vou agora teclar mais uma “beca”, encher as janelas de conversa de palavras portuguesas que recentemente descobri que se escrevem com “x” no fim, e dizer ao “Cúpido” que aqui a “Afrodite”, por sinal loira e apetitosa, foi fazer uma busca, mas não encontrou ainda o seu número de telemóvel...