Relações, confiança, ilusão, medo, insegurança, auto-estima. Um monte de substantivos que transitam sobre mim, passam como se existissem automóveis, veículos de palavras, embatendo de frente comigo.
Está tudo interligado, mas não são todas parte integrante da primeira.
Magoar parece ser uma coisa muito fácil e não há limite vincado para onde começa e termina o acto de magoar. Há quem magoe pelo simples facto de estar desconectado da nossa realidade, há quem magoe por estar precisamente muito a par da nossa forma de ser, o faça sem dar conta, o faça por pura maldade.
A Omissão de certas coisas magoa, certo que não é igual a uma mentira, mas é grave, porque achamo-nos numa realidade diferente daquela que foi erigida em nosso redor. De repente, os nossos alicerces abanam. Não é a mesma coisa que uma mentira, mas pode ser igualmente entendido como uma traição, trair o nosso direito de participar ou saber. Até que ponto uma omissão é pequenina, inofensiva, sem importância, e até que ponto pode ser razão de desconfiança, incerteza, ruptura, e fazer transbordar águas dos aquíferos do passado, por baixo desses alicerces?
Reacções... Há pessoas que mantêm e muito bem a compostura depois de ter conhecimento de um facto omitido e que achavam de extrema importância. Agem indiferentemente. Não as atinge, a auto-estima está no auge perante todos os factos, os alicerces não abanam, estão seguríssimos da realidade erigida.
Para alguns o mundo cai, o terramoto da tragédia abana todas as estruturas, que se não forem seguras pela confiança rapidamente se desmoronam.
Eu acho que fico no intermédio... não sei muito bem o que é, onde fica, onde pára, tal como não sei dizer se confio, se me tenho em conta superior a tudo que possivelmente me abale. Mas sobretudo, e quando quem magoa é próximo, não sei como reagir. Vou arranjando um meio-termo entre a indiferença e o drama interno.
“Justiça” é uma das palavras cujo significado ainda perscruto, para decidir se a omissão merece a minha maldade completa, o meu desprezo, a minha indiferença; Um elevado sentido de justiça, aquele que segundo a vox populi, a casa que tem esse nome, poucas vezes consegue fazer. Como serei eu justa então, se os até os exemplos dados deixam a desejar!
Por vezes o turbilhão interior de sentimentos não nos deixa tomar as melhores decisões. Então e quando as coisas estão feitas e não há nada para decidir? Nenhum castigo dará reverso ao que foi já omitido. A “Desculpa”, essa palavra traiçoeira, que se não faz transbordar a sinceridade da boca de quem a profere, merda com ela, “as desculpas não se pedem evitam-se”, é mais um vocábulo na boca de toda a gente, cujo significado se perde...
Eu desculpo a mim mesma pela indecisão de ser abominável como nunca fui, esse lado está escondido num canto recôndito, mas existe, como em toda a gente. Será que uma omissão é quanto baste para revelá-lo?