sábado, junho 20, 2009

Concertina














O tempo avança de mão dada com o medo.

Em segredo
As palavras complicadas

Já não me devoram na febre do seu uso,

Porque Eu caí em desuso.

Esqueci-me de me utilizar

Como de escrever,

Esqueci-me de pensar,

Esqueci-me de como se sonha.

O tempo ultrapassa o medo,

Faz-me medonha.

À esquina, um pedinte,

Toca uma concertina,
Sina diferente da minha...

E assim eu não devia

Estar importada com o medo

Ou com o sonho.
Esquecer-se
não é não ter com que sonhar.

Tempo torcido

Se eu soubesse
Que os meus dias não eram asas
Que pudesse estender e pairar sobre o tempo
Não as tinha inventado.

Antes teria semeado em cada um
Um pouco mais de mim
Para agora poder colher.

Fui

Fui.
E sei apenas que fui nada,
Nada resta,
E o que presta
É aquilo que fui.

Mas não sei o que fui.
Numa fotografia desmemoriada
Da desconhecida que está ao espelho
Vejo-me ludibriada
Por um rosto velho.

E está velho
De carpir a consciência de cada gesto
E a cada passo pensar que não presto
E que não chego para mim.
Eu fui, mas não sou assim.