quinta-feira, agosto 31, 2006

Minhas Mil e Uma noites...

E naquelas noites
Em que embarco para as aventuras
E me lembro humana,
E o espírito de todas as coisas,
Mesmo aquelas que não têm espírito,
Clamam o meu nome
E quero ser delas
E sei que não basto…

Naquelas noites
Em que o tenro da escuridão se palpa
E tudo se desnuda,
E na parca penumbra
Das lâmpadas eléctricas
Tudo se reinventa

Naquelas noites,
Por toda a parte
Cheira a Verão e a Flores desconhecidas
A sentidos e a emoções favorecidas,
E eu não basto…

Porque sei que não basto.

Mas é uma noite para agarrar o mundo
E uma vontade de sorver as coisas
De um só trago profundo.

Naquelas noites
Em que sei o meu tamanho,
Adormeço no êxtase
De cada momento ganho…

Doce Mal




É mal, dizem.
Não são flores nem sonhos.
São pecados, tão medonhos.

Odeio serpentes,
Mas são as tuas mãos, quentes,
A ondular-me rasantes na pele,
Que me fervem o sangue no corpo,
A tomar tudo quanto há dele.

Fazemo-nos animais de sangue quente,
Entregues à fluidez,
Ao pecado da nudez reconhecida,
Sem timidez, sem porquês, só vida.

Ah, esse mal tão doce que me trazes.
De tudo somos capazes.
Troçamos da moral em pequenos risos,
E são descabidos todos os juízos.

Crescem murmúrios nos lábios,
Ânsias de êxtase por dentro,
Consumimos o corpo em movimento.

Em cada toque, a nota da pele sobe no ar,
Sou flor em estufa, tão quente,
Plantada pra te abraçar.
Sorvendo a chuva das mãos, impaciente.

Enganas-me o ventre,
Em desejos de assinalar a presença
No mundo,
Tudo é superficial e profundo,
Só até onde quisermos.

E nessa procriação nos detemos,
Sorvendo tragos prolongados
Dos suspiros exagerados,
Procurando cheiros líquidos,
Promessas de amores insípidos.

As sinestesias do corpo não se explicam,
Só os sentires estranhos as complicam.

Enlaçam-se as mãos em gesto apaixonado,
Sente-se a rigidez do desejo afogueado,
Rubor nas faces, olhares, janelas vítreas,
Permanecemos enlaçados, alheios a críticas.

A palavra, obsoleta
Tranca-se na garganta.
De coisa concreta
Já a vida tem tanta.




Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

terça-feira, agosto 29, 2006

Epitáfio para os posts que já não consigo escrever



Para quê gastar as palavras, a saliva,

quando podemos deixar desprender o halo

da transparência das coisas

que não têm necessidade de ser ditas... (e mesmo as más…)

Todos os dias

Todos os dias feitos de aço,
De terra, de labor e de cansaço,
Todos os dias de solidão acompanhada,
Todos os dias cheios de nada.

Todos os dias cheios de nada,
De flores invisíveis no caminho,
De uma longínqua alvorada,
De noite e do mais que certo caminho

Das coisas, das gentes e da Terra,
Das também certas, fome e guerra
E de um vazio miudinho,
Que escarnece deste nosso mundinho.

Todos os dias de olhos fechados
Coração empedernido
E braços cerrados

Todos os dias cheios de vazio
Porque ao peito,
O estilhaçamos e está desfeito.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Estaremos sós








Estaremos mortos e sós,
Tu na tua tumba,
Eu na cinza dispersa do horizonte,
Vagos resquícios na memória
De quem um dia nos trouxe no peito,
Ou só troncos despidos
De árvores corrompidas
Pelo vento dos tempos,
De ramos fechados e quietos.

Estaremos sós
Na solidão finalmente completa
Cuja incompletude desenhamos
Nos dias trémulos sem encontro,
Sem horas pausadas
E fugazmente aproveitadas.

Estaremos sós
Quando o vento dos dias
Vindo da fúnebre lua envolver os telhados
E restarem os risos magoados
Dos pássaros que partem friorentos.

Estaremos sós
E teremos então todo o tempo do mundo
Que antes fora disperso e vagabundo
Procurando outro poiso
Que não nos nossos mecanismos de pulso
Dentro dos quais regíamos a vida.

E ficaremos
Eu, de mãos dadas
Com o horizonte quente e laranja,
E tu
Completando a terra enquanto gira.

E a ironia das coisas
Enquanto teimosamente o tempo contamos
É que esquecemos a história
E o tempo que matamos no nada
Enquanto é ele que nos mata.



Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Beijo

Quero entregar-te a minha boca,


Renascer do interminável ósculo que a rasga


E o ardor afecta-me a alma


No misterioso rumor de cada teu suspiro.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Barqueiro - estou à deriva...



São tantas! Tantas as frases e palavras que mesmo que as diga a todas, nunca acharei que estarão a definir o que sinto na completude e complexidade desses sentimentos.

Mas há vezes porém, em que acho que já disse tudo. E que repeti, parafraseei-me a mim própria, transformei tudo em sinónimos para ser diferente mas soar igual e sentido da mesma forma.

Mas elas chegam ao destino e mesmo que o meu interlocutor de sempre as esteja a ouvir, a interiorizar, elas perdem-se-lhe na memória, desvanecem-se na neblina crescente do rio das coisas boas em que o meu barqueiro de sempre costuma navegar.

E esse rio é tão largo e extenso que quando o contempla, o meu barqueiro esquece-se que vou a bordo e que entretanto numa rajada de vento um pequeno remoinho envolveu a embarcação e eu fui atirada, e estou prestes a naufragar…

E estou à deriva, como as minhas frases feitas, de palavras fugidias, envolvidas num boomerang que as traz de volta à minha boca, atraídas como mosquinhas a uma luz muito ténue que irrompe todos os meus dias num recanto do pensamento que forçadamente tento esquecer.

Barqueiro, quando é que me fazes Tripulante efectiva do teu barco???



Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

terça-feira, agosto 22, 2006

A faca do tempo



A faca do tempo
Cortou-me os sonhos.
Contornou-me os lábios,
Deixou marcado
Um sorriso mole,
Ocioso e forjado.

Apenas sobra o fio condutor,
Mnemónica de desenhos,
Outrora completos, de Sonhador,
Pende de Presentes desertos.

Lâmina gasta,
Irrepetível no corte,
Idêntica a si própria, somente,
No espetar da morte.




Canta na noite,
Ruído de papel cortado,
Som de corpo perfurado,
Rumor de foice.

A faca do tempo,
Gume milimetricamente marcado,
Trespassando o corpo feita vento,
Deixou um sorriso imolado…



Imagens retiradas da pesquisa de imagens do Google.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Retiro de mim

E quando me faço
Aquela que não existe,
Já não sou o olhar baço
Daquela eternamente triste,
Que deitada abandonei.

Quando sei
Canto de pássaro multicor,
Chuva de pedras e areias
Atirada às sereias
Em dia de Inverno trovador,
E searas queimadas de Verão
A arder na confusão
Das foices apressadas
Manejadas pelos donos das faces coradas,
Que interrompem o ciclo terrestre
Buscando fortuna em época de peste;
Quando sei
Em curtos laivos sabedores
Que o tempo e inócua fortuna
Quebram os amores,
E pressinto a lacuna
Do findar dos dias sem um beijo,
E tenho a certeza do desejo;

Quando essas e outras palavras atiro,
Carrancudas, ao papel
Deixando desfilar em tropel
Toda a minha mesquinhez
Então, a esse retiro,
Eu o prefiro muita vez.


Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

Fumo


Já me sabe a papel de musica,
A língua enrolada
No sabor cansado do fumo
No nojo do mórbido prazer.
A vontade a esgrimir com o mal,
Se há destino, é como ele fatal
Que me desfaça na névoa provocante
Se continuar a provar a solidão
Que me acompanha fumegante.

E pensar que é natural
Este mal ardendo e queimando

Por fumos e ardores a vida despojando…



Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

Quimera

E fazer versos cheios
Iguais aos suspiros do vento,
Ao rumor dos pinheiros
A ondular na passagem do ar,
Verdes como as copas
Do mais verde verdejar,

E exprimir
O silêncio fechado das paredes,
Ardores de suposto coração,
E a secura dos que sofrem das sedes,
Das fomes vis e incomensuráveis
Que vão além da razão
Dos Homens abomináveis,

E entregar, sentido,
Aos olhos de quem lê
Todo o desejo ardido
Do que cada olhar vê;

E imitar e igualar
A imperfeição perfeita
Do diáfano véu que cobre o mundo
E em cada morfologia eleita,
Ver nas palavras abismo profundo.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Primavera




"Aprendi com a Primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira"

Cecília Meireles



Imagem retirada da pesquisa de imagens do Google.

DiVaGaÇãO - VeRdAdE





Hoje há coisas que não me apetecem nada fazer, mas sei que quando estiver para morrer vai apetecer-me fazer de tudo.



segunda-feira, agosto 07, 2006

Indiferença




Ralo-me com a tua indiferença, com a réstia dos meus dias em que não entras voluntariamente, das perguntas que deixas sem resposta...

Mas e eles???



Imagens retiradas da pesquisa de imagens do Google.